segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tricogaster Léri

Peixe extremamente elegante, delicado e gracioso. Num fundo malva, cheio de filamentos macarados, destaca-se uma linha preta irregular, da ponta do focinho até a raiz da cauda. Uma pinta escura indica o começo da cauda. As nadadeiras do macho são bem desenvolvidas e têm a mesma coloração do corpo. Durante a época da reprodução o macho apresenta um aspecto imponente, com a parte inferior toda coberta com um vermelho bem vivo.

São por natureza bem delicados, pacíficos e tornam-se ideais para aquários comunitários pela sua sociabilidade. Raul Pereira, autor e escritor de livros de aquariofilia, relatou que possuía um exemplar desta espécie que não admitia nenhum outro peixe perto dele na hora da refeição. Tornava-se irascível e todos os outros peixes tinham que esperar com pavor num canto do aquário ou entre as plantas até que este cavalheiro terminasse seu repasto. Saciado o apetite, tornava-se o “gentleman” de sempre. Mas este é um caso excepcional, talvez o único nesta espécie, uma rara exceção.

A principal diferença entre os sexos é a nadadeira dorsal, que no macho é mais alongada e pontuda e na fêmea é menor e arredondada na ponta.


Para a reprodução, vale tudo o que foi dito para o Betta, exceto que não é preciso retirar o casal após a eclosão dos ovos pois jamais atacam os filhos e pode-se deixar o macho e a fêmea juntos logo no primeiro dia. Não são tão fáceis de induzir à reprodução em aquários quanto os outros Anabantídeos, sendo aconselhável tentar em um tanque só para o casal contendo bastante planta do tipo oxigenadora.

REPRODUÇÃO

Alguns aquaristas tem um grande temor a respeito da reprodução de peixes ovíparos. Suas primeiras tentativas geralmente são terríveis, e antes disto já ouviram falar de problemas neste tipo de reprodução. Aqui descrevo o meu método, algumas dicas e relatos de experiências próprias.

Porque o Trichogaster leeri?
De todos os Anabantídeos, o leeri é o mais pacífico (diferente de seus primos bettas) e muito mais elegante que os outros Tricogaster. A observação de seu nado nos revela seu charme, com movimentos suaves parece sempre estar a vontade mesmo na companhia de peixes maiores. Convive bem até com o Cichlasoma portalegrense, que é um ciclídeo de médio porte.



Os Reprodutores

A primeira etapa é a escolha do casal. Se você já tem um casal, observe atentamente o comportamento dos dois. Se eles combinarem, mesmo no aquário comunitário já mostram sinais de afinidade. Quando o casal é adequado, não importa aonde seja colocado e com quem viva que facilmente observaremos a afinidade entre eles.

Se você partir para a compra, com um pouco de atenção vai saber de cara qual é o melhor peixe para reproduzir. Na loja observe no macho uma coloração mais avermelhada na parte inferior, nadadeiras bem evoluídas e um porte robusto, de bom tamanho. Estas características são de um macho que não é velho nem jovem demais, um bom procriador. A fêmea precisa ter o mesmo tamanho do macho e deve estar muito gorda, se não for, procure em outra loja. Nunca tente crias com uma fêmea de proporção diferente do macho. Uma fêmea muito grande o macho não consegue dominar, e uma menor corre o risco de morrer devido a ferimentos causados pela insistência do macho. Provavelmente esta ainda seja muito jovem.

O acasalamento

A reprodução é muito simples. Coloque os dois no seu aquário comunitário e passe o observar atentamente. Tenha paciência e não fique com medo de ocorrer uma desova e os outros comerem tudo. Espere o casal mostrar interesse um pelo outro, observando que sempre nadam juntos trocando "carinhos". Assim começa o namoro. Quando o macho ficar com a coloração avermelhada muito mais intensa, ou começar a construir o ninho, é o momento certo. Agora estão prontos para serem separados. Colocar primeiro no aquário comunitário e esperar um pouco, causa muito menos desgaste para os dois, visto que o momento certo pode demorar meses para acontecer.

Monte um pequeno aquário de uns 20 litros com pouca água, no máximo 15 cm de altura, menos que 10 litros de água. Isto evita o desgaste causado pela perseguição que sempre ocorre antes da desova. O aquário deve ser montado sem cascalho, para evitar que os alevinos aventureiros fiquem presos. Use a água do aquário comunitário aproveitando para fazer uma troca parcial. É importante usar esta água. Cubra os vidros do aquário com cartolinas escuras, deixando um lado para observação. Coloque algumas plantas flutuantes como lentilhas d’água, salvínias ou mudas flutuantes de samambaias. O aquário deve estar em um lugar com pouca movimentação de pessoas. Coloque o casal. Nesta fase tudo depende da tranqüilidade do macho, se ele se sentir bem começará a construir o ninho, que é o mais provável. Esta construção pode demorar alguns dias, depende muito do macho, uns demoram mais que outros. A fêmea permanecerá no outro canto do aquário e parece perder o interesse por ele, e os dois se alimentam muito pouco.

Com o ninho pronto, o macho insiste que a fêmea vá para baixo do ninho, beliscando sua parte anterior. Ela não quer chegar perto do ninho, então começa uma perseguição pelo aquário. Nesta fase devemos ficar atentos porque se ela não atender ao macho, ele vai ficar insistindo e beliscando cada vez mais até causar ferimentos que podem ser fatais.
Geralmente o quarto dia é o limite. Vá correndo na loja e compre outra fêmea. Nesta altura do campeonato é botar pra rachar! Se o macho não construir o ninho neste prazo, troque-o também. O ninho construído para uma fêmea que não desovou, serve para outra fêmea. Se tudo der certo, o acasalamento acontece com abraços fortes do macho, veja a reprodução de Colisa lalia.

Quando começar a desova, não saia da frente do aquário, preocupe-se com a fêmea porque muitas vezes até mesmo no momento do abraço ela devora os ovos. Se acontecer, devemos então tira-la imediatamente. Com os dedos faremos uma leve pressão na sua barriga, se a desova for completa sentiremos que a barriga está oca, apesar de inchada. Só faça este procedimento com muita certeza. Se a fêmea não desovou tudo pode acontecer que eles espirrem com um jato forte. Deve ser feito somente quando a fêmea come os ovos ou quando precisamos saber se a desova foi completa. Fazer isto sempre em cima do ninho. A mão nunca machuca o peixe, o que pode ocorrer é que ele pule e caia, ferindo-se bastante. Podemos usar uma redinha como auxílio. Terminada a desova tiramos a fêmea e o macho é quem cuida da prole.

Nascimento

Em 24 horas os ovos começam a eclodir. Quando os filhotes saírem do ninho já devemos tirar o macho. Os filhotes começam a nadar primeiro em espiral, meio desnorteados, depois já conseguem se estabilizar rente a superfície, nadando em linhas mais retas. Este é o momento de tirar o macho, ele não se alimenta direito e pode ficar muito fraco. Retire-o de preferência com a mão, a redinha pode levar junto muitos filhotes. Devolva-o para o aquário comunitário onde já está a fêmea e a festa vai começar novamente...

Uma desova pode tranqüilamente passar de 1000 ovos. Não se preocupe com a alimentação nos primeiros dias. Providencie uma lupa do tipo conta-fios, usadas para ver negativos de fotografias. É facilmente encontrado em lojas de material fotográfico. Com a lupa observe a diminuição do saco vitelino para saber a hora certa de começar a alimentar, do terceiro ou quarto dia em diante. Use alimentos líquidos próprios para alevinos ovíparos, comprados no mercado, e infusórios que eu explico mais adiante. O alimento líquido deve ser colocado sempre conforme a bula que o acompanha, nunca aumentar a quantidade para evitar que ocorra a intoxicação causada pela fermentação do alimento não consumido. Alimente conforme a bula e com os infusórios no mínimo 3 vezes ao dia. Para facilitar a alimentação, use somente uma lâmpada fraca em um canto do aquário, eles vão todos para a luz.

Coloque no aquário alguns saches com carvão ativado, feitos com filó, que é o material usado nas redinhas, ou pegue aquele véu de noiva velho... Pode usar também um tecido muito poroso, mas nunca da marca "perflex" porque em pouco tempo ele começa a se desmanchar na água. A circulação da água é muito importante, use uma pedra porosa controlando para que saia somente um "fio" de ar no início, e vá aumentando na medida que eles crescerem. A circulação movimenta as pequenas partículas de alimento, que sem a circulação decantariam no fundo.

Na segunda semana comece a dar alimentos secos e muito moídos. A ração granulada para peixes grandes pode ser lixada até mesmo com uma lixa unhas, obtendo-se um pó muito fino. É importante que a comida flutue, pelo menos um pouco antes de afundar, pois os alevinos nadam e comem na superfície. Só procuram o alimento no fundo quando já estão mais crescidos. Observe com a lupa se o alimento está sendo aceito, se não, tente outro. Observar com a lupa é muito fácil. O peixinho tem o corpo transparente onde podemos ver claramente o alimento dentro dele. Com esta lupa, que possui uma base, o foco é muito fácil através do vidro lateral, e é maravilhoso vê-los crescer. Continue dando também o alimento líquido e infusórios até a terceira semana, diminuindo gradativamente até chegarmos somente no alimento seco.

Use um pipeta para retirar o resto de comida acumulado no fundo, os alevinos que morreram, os ovos não eclodidos e todo sinal de fungo. Use também algumas gotas de fungicida numa dose bem inferior a bula do medicamento. Para complementar, pode pingar na água algumas poucas gotas de vitamina C e complexo B, comprados na farmácia.

Neste aquário, os alevinos ficam até um mês, quando são retirados com um coador de leite bem fino. Nunca tente usar redinhas com tela flexível. Não se esqueça dos procedimentos para evitar choques térmicos e de pH. A partir da primeira semana, sifone o fundo com uma mangueirinha de ar, baixando o nível 1cm. Repor a água com esta mangueirinha, lentamente até chegar ao nível anterior e mais menos de 1 cm. Fazer isto todos os dias usando a água do aquário comunitário.

Preparando infusórios

Para criarmos infusórios existem diversas receitas. Uma que funciona bem consiste em deixar no sol cascas de vegetais como batatas, nabo, cenouras, cascas de bananas ou folhas de alface até ficarem secas. Alguns autores recomendam não usar alface, a infusão de folhas de alface produz uma cultura que contém fungos e parasitas. Depois colocamos as folhas em um vidro de conservas e despejamos um pouco de água fervente, como se estivesse fazendo um chá, e completamos com água fresca. Este preparo deve ficar no escuro de 2 a 3 dias produzindo uma grande quantidade de bactérias, tornando a água turva e pronta para receber os microorganismos.

Pegamos a água que fica no pratinho de um vaso de plantas sem adubos ou pesticidas, ou escorremos um pouco de água pela terra do vaso. Esta água certamente conterá uma grande quantidade de microorganismos, principalmente o protozoário Paramecium, que é o desejado, então colocamos na infusão preparada. Colocamos todos os dias umas gotas de leite, que causará a multiplicação das bactérias, o alimento para os protozoários. Em uma semana se forma uma camada espessa próxima a superfície que contém milhões de minúsculos microorganismos. O ideal é preparar diversas infusões com intervalos de alguns dias, assim teremos o fornecimento garantido. Alimentamos os alevinos a partir do terceiro ou quarto dia após a eclosão, diversas vezes ao dia, com uma colherinha da infusão.

Tanque de crescimento

Providencie um tanque bem maior, que já deve estar preparado no mínimo um mês antes do início da desova. Se você dispor de espaço use uma pequena caixa d’água. Uma caixa de cimento-amianto de 500 litros sai mais barato que um aquário de 50 litros, mas precisa ser preparada pintando com um isolante acrílico pelo lado de dentro, chama-se "suviflex". Encha a caixa com água da torneira e deixe descansar por uma semana, recebendo luz solar direta ou indiretamente.

Em seguida, coloque esterco de aves na quantidade de dois copos de 300 ml para 500 litros de água. Outros estercos, como de suínos, também fazem o mesmo resultado. Este processo chama-se adubação e é o grande segredo dos criadores profissionais. O esterco precisa estar seco, se for fresco vai ocorrer uma grande fermentação e consequentemente a liberação de gases tóxicos. O pH deve estar ligeiramente alcalino, facilitando o desenvolvimento de microorganismos vegetais. Pode-se misturar junto com o esterco um pouco de carbonato de cálcio ou cal. Este processo de usar esterco produz cyclops em grande quantidade.

Colocamos algumas plantas que podem ser cabombas e elodeas soltas. Não use muitas plantas, nem plantas flutuantes, que causarão sombra na água diminuindo as algas verdes. Este tipo de tanque não precisa de filtragem, bem pelo contrário, a filtragem terminaria com o plancton. Colocar os alevinos de 1 mês. Agora podemos ficar descansados. Eles começarão a crescer rapidamente, sendo pouco necessário a alimentação. Mas não devemos suspender a alimentação com os flocos bem moídos. Quando a quantidade de cyclops diminuir, podemos acrescentar um pouco mais de esterco, em quantidade bem menor. A água precisa ter uma coloração amarelada ou esverdeada, quando ficar muito cristalina adube novamente.

O ideal é ficar na rua, não há problema algum em receber chuva, somente devemos cuidar para que não transborde. A luz solar é ótima pois fitoplâncton, que é o alimento para os cyclops, depende da luz para fazer a fotossíntese e se multiplicar. Larvas e ovos de mosquito são ótimos também, aparecerão sozinhos e em quantidade. Não precisa se preocupar com a dengue, onde tem peixe o mosquito não evolui e na fase de larva já é devorado. Na rua existe o perigo de predadores. Aves como o bem-te-vi e insetos como as libélulas, cujas larvas são muito vorazes. É muito importante o controle da temperatura, 12º C é fatal e baixando de 17º C eles param de se alimentar, temperaturas muito comuns aqui no Sul, mas menos problemáticas em outras partes do Brasil. Em meio ano já estão bem crescidos, você terá muitos e poderá dar de presente para os seus amigos, pois corre o risco de não ter lugar para colocar tantos.

Eu desejo que este artigo sirva como referência, não como via de regra. Em aquariofilia tudo é relativo, principalmente quando tratamos dos seres vivos que habitam nossos aquários. Espero que seja a base para partir a algo mais.

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